quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Rompante

        Confesso que pensando em você procurei no Google o significado da palavra solidão. E achei uma frase de Shopenhauer que tomou o sentido de um rompante. Ela diz que a solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais. Nada mais bonito. Nada mais você. 
          Me lembro muito de um livro que li em que ele falava que a solidão é o destino de todos os espíritos eminentes. Acho que concordo com a premissa. Mais do que necessária a solidão é encontro, companhia. Controverso esse conceito, não? Penso que a solidão é também liberdade. Que quem não consegue viver só, nasceu preso, arraigado. Terá sempre aquela terceira perna que Clarisse precisou perder para caminhar novamente. Que a sua solidão te sirva de companhia. Se enfrente, se encontre, veja no vazio a plenitude. Não deixe que a solidão seja a distância que a separa de você mesma. 

     
 Pra ser um, antes é preciso ser metade.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Não ter pressa, mas não perder tempo. Será?


                Desculpa se eu cheguei atrasada, ou me adiantei nos passos e no passar das horas. Sempre me confundo nessas de adiantar e atrasar relógios. Acho uma maldade me acordarem mais cedo ou me roubarem uma hora de sono. Não sei se é a hora certa, ou perdi o timing da coisa toda, mas tente entender, não é que eu tenha pressa ou faça pressão, eu só não sei se posso esperar tanto. Fico com essa sensação de que posso estar insistindo nessa sozinha, forçando barras, nos levando a perder tempo.
                Tempo. Esse senhor das horas, das dúvidas e também amigo da maturidade. Sim, andam juntos, esses fanfarrões! Já tentei buscar a maturidade, mas era cedo demais. Já achei que o tempo enfim tivesse chegado e, quando abri a porta, me deparei com a maturidade de mãos dadas com ele, o bendito tempo.
                Há quem dê a ele o substantivo de “certo”. Tempo-certo. Não sei se combinam ou se a maturidade soube lidar com esse triângulo. Tempo-certo-maturidade. Não soa lá muito bem, não é!? Besteira! É só essa nossa mania de coisas exatas. Porque o tempo precisa sim de certa maturidade.
                Não sei se já ganhei o meu esperado tempo, se cheguei no ponto certo, ou obtive a maturidade suficiente, mas óh, tô tentando(juro!). Controlando essa mania que a gente tem de querer respostas sem fazer as perguntas certas. Adiando esse calendário interno que a gente cria pra definir datas para as grandes resoluções da vida. Como se houvesse um tempo certo. Como se as coisas precisassem de tempo. Como se só houvesse uma chance. Um ponto. De vista ou de partida. Como se fosse preciso decidir. Não é! Mas por favor, decida mesmo assim.
                Quando quiser, quando puder, achar que deve - mas decida. Não por achar que é certo. Isso não! Por camaradagem; por solidariedade; por achar que o outro merece; precisa; vai ser melhor assim; isso não! É o mesmo que dizer que: o problema não é você, sou eu. Uma das piores coisas no convívio é esse tipo de boa ação sem sentimento, disfarçada de consideração com o outro. Não faz sentido esperar tanto tempo e no fim dizer isso.
                Taí outra boa confusão: fazer sentido. Pra quem diz, pra quem ouve, pra quem sente, pra quem deixou de sentir, pra nós. Quanto trabalho! Não há remuneração que pague o serviço. Então, voltemos ao tempo: que é meu, e uma vez tendo roubado um pouco do seu, agora já se esgota. E antes que se acabe o tempo - dos relógios e nosso – fica só um pouco mais. Não deixe que essa minha pressa nos atrase. ‘’(..)
Me traz o teu sossego, Atrasa o meu relógio, Acalma a minha pressa ‘’. Desculpe plagiar a canção de Lenine, mas assim como ele, também é (isso) o que me interessa. 

JGA

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Âncora

            Lá em casa o meu pai é bravo. A minha mãe também. Lá em casa minha mãe trabalha muito. Meu pai também. Lá em casa meu pai cozinha. Meu irmão estuda e eu faço bagunça. A gente não diz muito eu te amo. Lá em casa a gente se ama. Ama tanto que não sabe lidar. Lá em casa a gente discute muito. A gente cresce juntos. Lá em casa meus pais são humildes. Lá em casa tem uma vira lata. Tem um pastor alemão também. Lá em casa a gente sente saudades. Lá em casa meu pai é cabeça dura. Eu sou cabeça dura. Meu irmão é cabeça dura. Lá em casa minha mãe pensa que ela não é cabeça dura. Lá em casa tem um peixe. Ele não tem nome. Lá em casa tem lareira. Se não tivesse, a gente ia tomar vinho e ficar juntinho do mesmo jeito. Lá em casa a gente faz montinho. Lá em casa tem uma 'âncora'. Lá em casa a gente é uma família. Lá em casa é tão lá em casa, que até me dói o coração.





MR